segunda-feira, 7 de abril de 2014

Para não dizer que não falei de solidão.

"Jamais saberemos o verdadeiro significado da solidão se não sentarmos à mesa com todos os nossos fantasmas. Tristezas, frustrações, rejeições emocionais, decepções, saudades inevitáveis, ausências impostas, derrotas, raivas, medos, enfim, todos devem estar ali, olhando no fundo dos nossos olhos.
Geralmente não escolhemos quando, onde ou mesmo como esse momento vai acontecer. Nem mesmo sabemos se ele vai ocorrer. Há quem passe uma vida sem saber o que é solidão real, há quem tenha breves encontros com ela e há quem a tenha como eterna companhia. Isso nos é imposto pela vida, fruto de nossos atos e escolhas, mas não necessariamente uma tragédia a ser, por nós, enfrentada com resignação, medo ou mesmo ganas de superação.
Minha solidão veio me fazer companhia. Não é a primeira vez que ela bate  em minha porta para me fazer uma visita, acompanhada de todos os meus fantasmas.
Dessa vez eles decidiram não sentar-se à mesa. Eles resolveram passear pela casa, dormir na mesma cama, invadir o banheiro enquanto eu tomo banho, olhar nos meus olhos pelo espelho enquanto escovo os dentes. Até preparam as refeições junto comigo e de vez em quando, recebem meus sonhos e pequenas felicidades para uma festinha privada.
Confuso não?! Tem dias que é mais complicado administrar as emoções a mim impostas por estes desordeiros, existem instantes em que chego a pensar em desistir e deixar a casa para eles. Sento em um canto qualquer e fico observando o que eles fazem, seus movimentos, o sorriso de satisfação quando acham uma recordação escondida ou quando conseguem importunar aquela pequena felicidade que veio me ver.
Não sei ainda quando a solidão pretende ir embora levando meus fantasmas consigo, ao certo, não sei nem se ela pretende fazê-lo. Nessas horas o medo sorri para mim. Não gosto dele, ele anda crescendo, alimentando a frustração e a decepção, elas são muito volúveis e isso me deixa nervosa.
Nesse ritmo, com eles ocupando muito espaço na casa, recolho-me e tento aprender a conviver com todos. Na tentativa de continuar, comprei uma mochila. Quando tenho que sair, coloco todos ali dentro e levo comigo. Evito apresentá-los, eles sempre acham mais um e querem trazer para casa.
Eu, por minha vez, só consigo pensar em um café quente, forte e acompanhado de um instante de silêncio. Adoro essas horas! É quando a minha esperança sai do esconderijo, sorri seu mais belo sorriso e sussurra ai sair no calor da bebida: "aguente firme, eles não vão te derrotar".... 

Ah, como é doce meu café amargo...."

(texto de novembro/2013)

Nenhum comentário:

Postar um comentário